terça-feira, janeiro 08, 2008

Death: The High Cost of Living

Quando Neil Gaiman escreveu a saga “Sandman”, sobre Morpheus o Senhor do Mundo dos Sonhos, criou uma das maiores obras-primas da literatura em geral e da banda desenhada em particular. Mundialmente aplaudida, esta série mensal que durou entre 1988 e 1996 sempre esteve destinada, na mente do seu criador, a ter um princípio e um fim.
Porém este mundo fabricado por Neil Gaiman é vasto e grandioso e a possibilidade de publicar outras estórias aproveitando a imensidão de personagens criadas ao longo da série era um caso completamente diferente. Assim livros como “Lúcifer”, “The dreaming” e “Destiny: A Chronicle of Deaths Foretold” foram surgindo ao longo dos anos, alguns até escritos novamente pelo próprio autor original, como dois sobre a personificação da Morte. Este mês fui buscar precisamente o primeiro desses livros de nome “Death: The High Cost of Living”.
Penso que para todos os que leram “Sandman” este livro não surgirá como uma surpresa, afinal de contas é claro o carinho que o autor nutre por esta personagem.
A Morte é a irmã mais velha de Morpheus, mais velha porque as pessoas ao nascer têm primeiro a possibilidade de morrer do que de sonhar. Tem a forma de uma jovem muito bela sempre vestida de preto num estilo gótico e usa ao pescoço um Ankh. Não deixa de ser irónico que este símbolo Egípcio usado pela personificação da Morte simbolize na verdade a vida e a alma. “Um dia em cada século a Morte assume um corpo mortal, para melhor compreender o que sentem as almas levadas por ela e assim provar o gosto amargo da mortalidade. Este é o preço que tem de pagar por ser a divisora dos vivos de tudo o que veio antes e de tudo o que há-de vir”.
É com base nesta antiga profecia que a estória de “Death: The High Cost of Living” se baseia. Chegou novamente a altura de, como tem acontecido ao longo dos séculos, a Morte assumir um corpo mortal e passar um dia entre os vivos. São muitos os que aguardam ansiosos por este momento, é uma oportunidade que apenas se apresenta de 100 em 100 anos e para muitos essa espera tem sido longa de mais.
Durante esta estória ela será conhecida entre os Homens como Didi, uma jovem que perdeu recentemente a sua família num acidente. Mad Hettie é a primeira a reconhecê-la como a personificação da morte, e rapidamente a aborda na esperança de que esta lhe conceda o favor de encontrar o seu coração há muito perdido.
Sexton Furnivale é um rapaz de 16 anos que perdeu a vontade de viver, simplesmente porque não acredita que haja um propósito na vida. Certo dia enquanto escrevia a sua carta de suicídio, foi interrompido pela sua mãe e forçado a sair de casa para que esta pudesse iniciar as limpezas da casa. Mal ele sabia que o seu caminho se iria cruzar justamente com quem ele procurava, a Morte.
É claro que apesar de Didi se auto intitular como a personificação da Morte, Sexton sempre pensou que fosse apenas mais uma rapariga com sérios problemas mentais, muito provavelmente derivados do trauma que é perder os pais num acidente. Mesmo assim, e porque a alternativa poderia sempre esperar, Sexton acompanhou Didi nesta jornada, que se a principio aparentava ser apenas pela busca de um coração, no fim se revelou como uma viagem de auto-descoberta.
Muitos de nós só descobrem o verdadeiro valor da vida quando “caminham lado a lado com a Morte”, para Sexton estas palavras foram literalmente verdade.
“Death: The High Cost of Living” pode não partilhar o brilho e a criatividade de “Sandman”, mas será sempre mais uma boa oportunidade de recordar ou descobrir este mundo mágico que existe na mente de Neil Gaiman.


Publicado originalmente em Rua de Baixo (Março de 2007) por José Gabriel Martins (Loot)

1 comentário:

Anónimo disse...

nunca tive oportunidade pra ler nada do sandman. a morte é um personagem fascinante. vou comprar esse revista um dia. gaiman é um grande roteirista. o ingles deu ao deus dos sonhos uma verdadeira obra-prima nos quadrinhos. uma obra de arte, elevou a revista a mais perfeita literatura.