quarta-feira, setembro 21, 2011

Howl


Há 15 anos que o Queer Lisboa tem sido fundamental na divulgação de cinema gay e lésbico. O Cinema correspondente a esta temática e que é apelidado de cinema Queer, não é de fácil acesso para o grande público, estando na sua maioria afastado dos circuitos comerciais.

Na abertura deste 15º aniversário a responsabilidade de abrir as hostes coube a “Uivo”, título retirado do poema de Allen Ginsberg de 1955. E há semelhança do “uivo” que o poema de Ginsberg foi para a sua geração, a geração beat, podemos dizer que a escolha também soou como um “uivo” para todos os visitantes do festival. Um uivo que espelha o trabalho de 15 anos e que se mostra esperançoso em continuar a fazê-lo por muitos mais.

A narrativa do filme divide-se em três grandes partes que se vão alternando entre si. Sendo elas a declamação do poema “Uivo” pela voz de James Franco (na pele do poeta), ora para uma plateia, mas não uma plateia qualquer, a da sua vida; ora seguindo as suas palavras que atravessam o mundo em imagens de animação.

Outra das partes, baseada em gravações do poeta, tenta recriar, em jeito documental, uma entrevista. Por fim assistimos também ao célebre julgamento referente à publicação de “Uivo”. Onde o poeta Lawrence Ferlingh, editor do poema, foi preso e acusado de publicar material obsceno. Não deixa de ser irónico que a acção que mais contribui para a divulgação de uma determinada obra seja precisamente aquela que tem por motivo a sua condenação moral e por consequência extinção da face da Terra.


Jeffrey Friedman e Rob Epstein, são dois nomes mais conhecidos pelos seus trabalhos no cinema de documentário. Neste “Uivo” exploram juntos pela primeira vez, ainda que baseada em eventos reais, a realização de uma longa-metragem de ficção.

James Franco, continua a provar que é uma referência cada vez maior na sua geração e que não tem receios no tipo de desafios com que se depara. Na pele de Allen Ginsberg volta a ser um dos pontos mais altos do filme em que participa (a última vez tinha sido em 127 horas).

No leque de secundários há também nomes de referência e tanto nos actores (David Strathairn, Jon Hamm, Mary-Louise Parker, Jeff Daniels) como nas personagens (Jack Kerouac, Neal Cassady, Lawrence Ferlinghetti, Carl Solomon).


Como filme “Uivo” trata-se de uma peça bastante heterogénea, contendo tanto traços de documentário, como de animação e ficção. No entanto acaba por ser nas palavras que reside a sua maior força e não na cinematografia. São os vários “uivos” de Ginsberg que ecoam durante todo o filme que nos hipnotizam e comovem mais. Aqui as palavras prevalecem sobre a imagem, sempre.

Publicado na Rua de Baixo por Gabriel Martins (Loot)

1 comentário:

cube disse...

e ainda não o consegui ver... :(