quinta-feira, maio 16, 2013

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos


Se a capa de um livro é importante a fim de captar a nossa atenção, o título também terá um papel a desempenhar nesse sentido. São, afinal de contas, estes os primeiros contactos que temos com um livro e que nos poderão fazer pegar nele e folheá-lo. Claro que se não devemos julgar um livro pela capa, também não o devemos fazer pelo título. Isto para dizer que Pedro Brito (argumento) e João Fazenda (desenho) escolheram um título certeiro para esta BD. Há qualquer coisa de imensamente atractivo quando lemos as palavras "Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos", onde rapidamente a nossa curiosidade é despertada, pelo menos foi o que aconteceu comigo.

Ainda há pouco tempo tive uma conversa sobre a forma como algumas pessoas olham a BD. Parece que muitos encaram-na não como uma arte com a sua própria identidade, mas antes como um género da literatura. Tal como existe o terror, o drama ou a comédia, existe também a BD. Ora nada mais errado, a BD é uma arte que tal como a literatura possui vários géneros e é normal, como em tudo o resto, que não se gostem de todos, isso não faz com que não se goste de BD. Por isso é que acho que a maioria das pessoas que o afirma, são as que menos a conhecem. Partilho esta conversa que tive porque ao iniciar este livro o protagonista, Tomás, também a tem com um amigo, foi como se me estivesse a "ouvir".

Tomás está neste momento a batalhar com os seus pensamentos em busca de inspiração para escrever um argumento para BD. A sua relação amorosa tem vindo a denegrir com o tempo, Elsa, a sua mulher, uma pintora ansiosa por receber reconhecimento, tem-se afastado cada vez mais dele, fechando-se num mundo ao qual ele não sente pertencer. Entretanto, enquanto continua a sua demanda em busca de uma musa inspiradora, parece vir a encontrá-la nos seus sonhos. Sonhos esses que parecem ter uma qualquer ligação a uma estranha planta que comprou no meio da rua. O mais estranho é que a musa que lhe surgiu em sonhos lhe acabará por surgir à sua frente no comboio. Será possível sonharmos com alguém que nunca antes vimos? Ou haverá algo mais neste acontecimento? Magia? Ou pura e simplesmente o destino?

Gostei da história e dos diálogos, apenas acho que o "destino" facilita muito a vida de Tomás no final. Todos os seus problemas se concluem de forma rápida e eficaz, principalmente o do seu casamento com Elsa, cuja dinâmica poderia ter sido mais explorada.

Conheci o trabalho de João Fazenda com as suas ilustrações para os textos da Visão de Ricardo Araújo Pereira e que deram o livro "Boca do Inferno". Quando soube que tinha feito BD comecei a procurar os seus trabalhos dos quais este foi o primeiro que li. O exercício que Fazenda fez neste livro é muito interessante e mostra como podemos fazer algo bom e diferente sem precisar de ter grandes custos de impressão. O livro é desenhado a preto-e-branco, usando em determinados momentos uma coloração vermelha, por exemplo, em algumas peças, de roupa, no fumo de um cigarro, ou no, mais óbvio, sangue. A combinação entre a cor vermelha e o traço negro de Fazenda resultam numa mistura singular que só por si já fazem desta uma leitura que merece a nossa atenção.

"Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos" foi editado pela "Polvo" e venceu os prémios de "Melhor álbum português" e "Prémio Juventude" em 2001 no Festival Internacional de BD da Amadora, e "Livro do ano 2000 em BD" pelo Diário de Notícias.

5 comentários:

Vidazinha disse...

Passados todos estes anos desde que foi publicado, este continua a ser o meu livro de BD portuguesa preferido.

Loot disse...

Li-o ontem, agora estou no Loverboy do Marte de do João Fazenda :)

Achei este livro muito cativante, não diria que é o meu favorito, mas também não te sei responder a essa questão :P

Vidazinha disse...

Os do Loverboy são castiços. Já lá vão uns bons anos também, lembro-me que achei mais piada à personagem que se calhar às histórias propriamente.

rui alex disse...

Do Pedro Brito só tive oportunidade de ler o "Pano Cru", é da mesma altura. É curto, algo descomplicado mas brutal.

Loot disse...

Não conheço, vou procurar, obrigado Rui

abraço