segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Doctor Who: The Day of The Doctor (50th anniversary)



SPOILERS

Clara sometimes asks me if I dream. "Of course I dream," I tell her, "Everybody dreams". "But what do you dream about?" she'll ask. "The same thing everybody dreams about," I tell her, "I dream about where I'm going." She always laughs at that. "But you're not going anywhere, you're just wandering about". That's not true. Not anymore. I have a new destination. My journey is the same as yours, the same as anyone's. It's taken me so many years, so many lifetimes, but, at last, I know where I'm going, where I've always been going: Home, the long way 'round.
The Doctor


The Night of The Doctor

Neste mini-episódio temos uma surpresa maravilhosa. Paul McGann regressa como 8º Doctor para nos mostrar os seus últimos instantes, fazendo a passagem para o Doctor misterioso de John Hurt. Logo no início percebemos que o 8º Doctor tem estado afastado dos conflitos da "Time War" entre os Time Lords e os Daleks, continuando a ajudar aqueles que pode ao longo do Universo. Contudo, o facto de ser um Time Lord tem-lhe causado problemas, as pessoas já não confiam mais nele, temendo-o. Isto é importante para mostrar que neste momento os povos temem os Time Lords como temem os Daleks e que a grande Time War poderá destruir todo o Universo se não for terminada. Isto é muito importante para justificar as acções futuras do Doctor.

Outra surpresa é que o Doctor acaba por morrer ao tentar salvar uma mulher de nome Cass. Como ela recusou o salvamento acabaram os dois por se despenhar em Karn (o Doctor devia ter-se protegido na Tardis). Claro que tudo aqui parece ser obra do destino uma vez que se despenhou no planeta da Sisterhood of Karn, um grupo de mulheres que o reanimam temporariamente na esperança de que o Doctor aceite regenerar-se para terminar esta guerra. O nome Doctor é uma promessa e por isso é muito complicado para esta personagem entrar numa guerra, quando ele vive segundo o lema de que a violência gera violência. Mas tendo razão, será que se pode viver sempre sob o manto do pacifismo? Como se termina uma guerra como a Time War? Nesse momento de desespero o Doctor aceita regenerar-se de forma controlada, ou seja, a irmandade de Karn consegue criar poções que irão dar o corpo que ao Doctor mais convém. Colocando uma pausa no seu título o 8º escolhe o corpo de um guerreiro, aquele que participu na guerra, aquele que a terminou e por isso mesmo tem o seu nome esquecido da grande história desta personagem. O Doctor sem número, o War Doctor.

Existe ainda um outro mini-episódio - "The Last Day" - que nos mostra o início da batalha que levaria à queda de Arcadia.


The Day of The Doctor

Em "The Day of The Doctor" vemos o regresso de mais uns míticos vilões de Doctor Who, os Zygons (que antes apenas haviam aparecido num episódio). O mais interessante destas criaturas é a sua capacidade de assumirem a forma de outros seres vivos. Num ataque à Terra que envolve duas linhas temporais a história dos Zygons acaba por ligar o 10º e o 11º Doctor em termos narrativos. Mas a sua junção fisica ocorre por causa do War Doctor e do momento em que este decide terminar a guerra de uma vez por todas.O cerne do episódio é esse preciso momento em que o Doctor terminou a Time War.

Para terminar a guerra o War Doctor chega à conclusão que a única forma de o fazer é aniquilando Gallifrey juntamente com os Daleks. Para isso rouba "The Moment" uma arma de destruição massiva capaz de engolir galáxias. Mas devido aos seus poderes devastadores esta arma desenvolveu uma consciência que através de um interface comunica com o seu utilizador (tecnologia Time Lord). Desta forma "The Moment" assume uma figura do futuro do Doctor (achando ser do passado) para lhe mostrar o futuro após o momento em que destruiu o seu planeta de origem. Este interface é, nada mais nada menos, do que Rose Tyler quando absorve o Time Vortex, ou seja, Bad Wolf. Pensava mesmo que Rose iria aparecer no episódio, mas acho que esta foi a melhor forma de trazer Billie Piper. Rose teve um final feliz e está em outro Universo, os assuntos deste já não lhe dizem respeito. Como Donna não se pode lembrar ou Amy que já morreu, todos têm um fim, todos menos o Doctor.

Desta forma "The Moment", com uma facilidade necessária para a narrativa, junta os Doctors em vários momentos, nomeadamente no momento decisivo da Time War, evento que supostamente estava bloqueado. Mas antes de chegar aí vale a pena mencionar as aventuras que os três Doctors tiveram na Terra contra os Zygons. O episódio foi muito revivalista, algo que se notou logo com a introdução original. Este revivalismo foi muito bem desenvolvido, há uma série de referências ao passado da série que são muito bem introduzidas ao longo da aventura. E tivemos finalmente revelado mais sobre o passado entre o Doctor e a rainha Elizabeth I. A interacção entre os três Doctors é fabulosa e John Hurt assenta que nem uma luva no papel, não nos fazendo questionar a sua identidade.

Moffat gosta de mexer muito com a mitologia de Doctor Who. Ele criou um segundo Big Bang fazendo um enorme reset ao Universo; ele meteu os Silence a manipular os humanos (sabe Deus desde quando); ele criou o momento em que o Doctor morre, colocando um vilão e, posteriormente, uma companion a fazerem parte da linha temporal do Doctor. Ele gosta de grandes mudanças e desta vez trouxe-nos um novo Doctor que estraga os números, uma vez que Tennant será sempre o 10º e Smith o 11º. Para isso fazer sentido este Doctor teve um papel ingrato e por isso não é, supostamente, digno de usar o título do Doctor. Não sei se Eccleston tem aceitado regressar, se não seria ele próprio o War Doctor, não havendo necessidade para o resto. O 9º Doctor seria o único que eu vejo a encaixar neste papel, uma vez que é o que mais se assemelha a um soldado, um guerreiro. Talvez o argumento sofresse algumas alterações, o Eccleston não é de facto o War Doctor aqui descrito, ou talvez, a personagem do John Hurt sempre surgisse e Eclleston apenas seria mais um Doctor nesta grande mistela. De qualquer das formas, aqui acho que Moffat conseguiu criar algo inovador, interessante e estimulante. O War Doctor funciona. Já agora andava a imaginar um Sonic Screwdriver com a luz vermelha por isso quando vi o do War Doctor fiquei em extâse. Vermelho tinha de ser a sua cor.

Curioso que desde a fase de John Hurt que o Doctor tem vindo a ficar mais novo e, ao mesmo tempo, vindo a recuperar a vontade em viver. Talvez por esse conjunto de factores o 10º e o 11º sejam tão juvenis comparado com o War Doctor que apesar de mais novo parece bem mais velho. A guerra faz isto às pessoas. Seria era interessante ter o 9º Doctor a fazer a transição entre estes Doctor's.

No final, os três Doctors conseguem salvar a Terra (apesar de não sabermos como) e também Gallifrey. Em vez de destruirem o planeta dos Time Lords (com todos os seus inocentes) os Doctors decidem remover o planeta para um outro Universo, onde ficará perdido, mas vivo. Ao fazê-lo as hordas de Daleks irão destruir-se umas às outras (o que também justifica mais facilmente porque tantos Daleks sobreviveram). Afinal no momento mais negro da vida do Doctor ele conseguiu na mesma ir por outro caminho. Claro que para isso foram precisos todos os 13 Doctors. Sim! 13! O cameo de Peter Capaldi é mais um momento de puro fascínio neste episódio. Agora também o War Doctor faz parte deste panteão honroso, mesmo que não o venha a recordar. os Doctor's não são 11, mas sim 12 (isto vai ser caótico). A utilização de filmagens antigas para se sentir a presença de todos os Doctor's foi muito bem conseguida e conseguiu comemorar de uma forma única e especial estes 50 anos de "Doctor Who". A finalizar tivemos o cameo de Tom Baker o 4º Doctor que aqui parece regressar ao papel de Doctor, mas a qual? Talvez a um de um futuro muito distante. Um momento certamente ainda mais emocionante para os seguidores da série antiga.

Chega assim ao final o grande dia do Doctor e com ele a promessa de uma Gallifrey algures perdida. Temos aqui também o mote para a próxima temporada, a busca do Doctor pela sua casa e isso é muito aliciante.

Porém, houve uma parte em particular que me deixou com alguma pena. Falo dos acontecimentos de "End of Time". O concelho que decorre nesse episódio chefiado por Rassilon é mencionado neste especial para nos mostrar que não foi esquecido, contudo, não seria importante referir que os Time Lord esboçavam um plano para aniquilar toda a existência como foi mencionado em "End of Time"? Se nos basearmos apenas em "The Day of The Doctor" o sentimento de destruição do Universo é sentido, mas apenas como o resultado da continuada batalha entre dois povos. Em "End of Time" era claro que o presidente dos Time Lords se tinha passado ainda mais da cabeça e por esta altura o War Doctor já teria conhecimento destes planos uma vez que o 10º tinha (caso contrário nem mencionaria isto). Na altura até tinha ficado com a impressão que os Time Lords não tinham sido mortos mas presos no tempo, que o Doctor teria feito isso em vez de os matar, mas parece que fiz confusão com o facto de a gerra estar time locked. Também a profecia de que o Doctor os pararia poderia ser mencionada. Ou não era sabida por todos? De qualquer das formas esse lado negro dos Time Lords foi esquecido e reforçava a necessidade da acção do Doctor. Uma acção que afinal ele nunca tomou. Suponho que estes eventos decorram um pouco ao mesmo tempo que os "The End of Time", caso contrário esse ataque poderia nunca ocorrer e assim sendo o 10º Doctor não teria morrido. Com isto não quero deixar de salientar todo o trabalho que Moffat teve a escrever isto, a forma como interligou os acontecimentos e conseguiu construir uma peça monumental de História para esta série. Os meus sinceros parabéns Steven Moffat és um dos maiores.

Inicialmente (em 2005) o Doctor é-nos apresentado como um sobrevivente da guerra, um que teve de sacrificar o seu povo para salvar o Universo. Com o 10º Doctor essas razões foram mais aprofundadas, de certa forma, justificando-as ainda mais. Agora Moffat tirou-lhe esse peso da consciência. O Doctor conseguiu, mais uma vez, não derramar sangue (se não contarmos com os Daleks). É, novamente, uma decisão que mexe muito com a mitologia, afinal a destruição do seu povo fez parte do que era este novo Doctor. Mas acho que as coisas foram feitas com muita dedicação e cuidado (salvo o apontamento atrás) e a possibilidade de ter os Time Lords de volta é muito boa. O Doctor mais do que um herói é aquele que prometeu não ser cruel, não fazer sofrer e sempre ajudar. Não sei se será sempre possível, mas enquanto ele conseguir que seja esse herói, esse Doctor que cura o Universo vezes e vezes sem conta.

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