quarta-feira, março 25, 2015

Doctor Who - Temporada 8



Mais uma análise a uma temporada do Doctor. Desta vez no TVDependente.

terça-feira, março 24, 2015

Herberto Helder (1930-2015)

Ainda há poucos meses destacava o último livro de Heberto Helder, quando hoje de manhã me deparo com a notícia da sua morte. Trata-se de um dos mais recentes autores a quem me tenho dedicado descobrir e, apesar de não ser um grande conhecedor, não podia deixar de fazer uma homenagem a este grande poeta.

O facto de ter editado no final do ano passado um livro que reúne o seu corpo de poesia definitivo (segundo o próprio), não deixa de assumir uma certa simbologia,  como se se tratasse de um presságio por parte do próprio autor que aproveita para "arrumar a sua casa" antes de partir.

Porque a melhor maneira de recordar Herberto Helder, é lendo-o, deixo em seguida as seguintes palavras aqui publicadas:

"Triptico

I

Transforma-se o amador na coisa amada com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si
 E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas. 

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.

O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada. 

Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior de amor. 

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo
                                                     e do amor."

Herberto Helder

terça-feira, março 10, 2015

O Espelho de Mogli


"O Espelho de Mogli", editado no ano passado pela MMMNNNRRRG, trata-se de uma das peças de BD mais notáveis a chegar ao nosso mercado nos últimos anos. O livro de  Olivier Schrauwen, consegue cativar-nos pelo seu conteúdo, pela sua sensibilidade gráfica e até pelo objecto em si (o formato é o de uma espécie de jornal). Estamos a falar de uma peça que tem tudo para se tornar de culto.

A ideia pode ter nascido do livro de Kipling, quando o autor pegou no conceito do menino criado na selva, mas rapidamente seguiu o seu próprio curso e um muito diferente do explorado em o "Livro da Selva". Em "O Espelho de Mogli" seguimos o protagonista na procura de companhia, um exercício que acaba por se provar infrutífero, porque por mais que a selva seja uma casa para Mogli, este continua a ser um estrangeiro no meio dos seus habitantes.  Olivier Schrauwen, sem nunca recorrer ao uso de uma palavra, traz-nos assim uma excelente reflexão sobre a identidade do Homem e a fronteira que se ergue entre ele e o animal.  Uma viagem de reflexos e reflexões, para o Homem que procura conhecer-se melhor. Tudo isto sempre pautado por emoções diversas, pois Schrauwen é um mestre a compôr este trabalho, conseguindo colocar-nos a rir de Mogli com a mesma facilidade e à vontade que nos faz sentir a sua dor e desespero.

Em relação a esta edição, difere da original no tamanho - é maior, com 25 x 30 cm - e na cor, previligiando o uso do laranja e azul, numa composição muito terrena, de um livro que, por vezes, tem um sabor bastante onírico.

Foi um livro que acabou por surgir numa altura em que não estava a escrever sobre nada. Mas pelo impacto que teve em mim e por considerá-lo, provavelmente, o lançamento mais relevante de 2014, não podia deixar passá-lo despercebido aqui no blog. Estou a falar de lançamentos de material novo, pois 2014 teve a edição de MAUS e da Mafalda que serão sempre peças fundamentais deste universo que é a BD.


terça-feira, março 03, 2015

Beladona


"Beladona" é o novo trabalho de terror de Ana Recalde e Denis Bello na BD. Editado pela AVEC, trata-se de mais um livro que nos chega do Brasil. Chega, salvo seja, "Beladona" pode não precisar de tradução, mas a sua compra terá de ser feita por correio, uma vez que dificilmente se encontrará nas nossas lojas. Por isso vale a pena espreitar o site da editora.

Falei sobre ele no "Deus me Livro".


segunda-feira, março 02, 2015

O Estrangeiro


Camus parece ter agrupado o seu trabalho em três grandes ciclos temáticos, o do absurdo, o da medida e o da rebelião. Quando li "A Peste" mencionei que apesar deste pertencer ao da rebelião, lhe reconhecia traços do absurdismo, corrente filosófica que comecei a conhecer na altura e que me interessava em particular por me identificar em vários aspectos com a mesma.

Agora, após ler "O Estrangeiro", posso dizer que este sim é o verdadeiro tratado ao absurdismo em forma de livro ficcional. Toda a construção da história evoca o pensamento absurdista, inclusivé a forma como está escrito em termos narrativos. Camus afasta-se da poesia literária (mas não sempre) e torna-se - a partir do seu protagonista - num observador prático, recorrendo a frases curtas e simples para descrever a acção. Toda esta atenção na construção deste "Estrangeiro" tornam o livro de Camus, numa peça literária de enorme valor.

Muito sucintamente, esta é a história de Meursault, um argeliano, que por não seguir as normas da sua sociedade, se torna um estrangeiro na sua própria cidade (no mundo). Um estrangeiro, precisamente, por ser diferente, acaba por não pertencer e, por isso mesmo, o seu comportamento é mais depressa julgado e condenado. Como podem ver, o título nada tem a ver com nacionalidades ou etnias, aliás, todos nós, em determinados momentos da noosa vida já fomos ou somos estrangeiros.

A edição da "Livros do Brasil" traz uma soberba introdução de Sartre, a qual ainda enriquece mais a leitura. Tudo o que poderia escrever aqui sobre "O Estrangeiro" Sartre disse-o melhor, por isso a sua leitura é muito recomendada. Caso tenham uma edição que não a contenha, vale a pena procurá-la.

Mais uma leitura obrigatório deste grande autor francês.